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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Palanque.

Estou aqui porque acho que devemos fazer alguma coisa. Eu sou um cara pobre, brasileiro, filho da rede pública de ensino. Sem patrocínio, sem dinheiro. Cheio de hematomas por causa das porradas que a sociedade me dá. Por isso, acho que devemos fazer alguma coisa porque todos estamos no mesmo barco.
Quem poderia imaginar? O filho de uma catadora de papel, negra, analfabeta e, obviamente, pobre, passou para um dos cursos mais concorridos da Universidade de Pernambuco: Biomedicina. O jovem, negro como a mãe e irmãs, herdeiro de uma história marcada por chibatas, abusos, descaso e preconceito tornou-se a exceção da regra da sociedade brasileira. O ingresso para uma universidade pública seria uma possibilidade de um futuro melhor para ele e família. Mas essa história não termina com o clichê “e viveram felizes para sempre".
No dia 6 de março fará um mês que mais um jovem foi brutalmente impedido de conquistar seus sonhos. Histórias como estas já passam por nós de forma corriqueira e banal. Desta vez o ator principal do teatro do Brasil foi Alcides do Nascimento Lins, de 22 anos, que foi morto na porta de casa, no dia 6 de fevereiro. Por engano! Alcides acabou por fazer parte das banalizadas estatísticas de jovens pobres, negros assassinados no Brasil.
Precisamos fazer alguma coisa. Somos um povo com um histórico de luta e não podemos morrer na nossa própria inércia. Eu também estou errado porque estou dentro disso. Mas quero fazer diferente. Fazer o Certo. Posso estar sendo sensacionalista, não sei mesmo. Mas eu estou há muito com essa inquietude. É decepcionante decepcionado o andamento das coisas, com o conformismo e a apatia-nossa-de-cada-dia! Precisamos fazer alguma coisa. Por nós, pelos outros, Pra vida! Pelo amor de Deus. Sabe, eu não quero acabar como o Alcides: Interrompido no meio do caminho. Mas também não quero ser a minha própria pedra no meio do meu caminho. Sou solto demais pra acabar preso dentro de um sistema que nos coloca como café-com-leite na brincadeira do mestre mandou. Nós não podemos.
Somos negros, brancos, pobres, assalariados, subalternos, subdesenvolvidos. Mendicamos por uma educação falida, para ocupar a high society. Somos todos cegos no meio do tiroteio. Moribundos. Somos os cegos de Saramago. Somos um Haiti que tem escolas de samba e Ronaldinho. Somos uma colônia mestiça, tropical e catequizada. Adestrada para dizer sim e votar nulo. Não podemos esperar levar um tiro ou alguém próximo sofrer com a violência e o descaso. Não podemos ser Cristãos de IBGE, só pra contar nas estatísticas. Quando Jesus fez pelo povo, não estava preocupado com promoção e muito menos com estatística, rótulos. Ele era ele mesmo. E por isso fez o que fez. Não podemos mais nos sustentar de um rótulo de bons cristãos que somos. Nossa gente é apática e conformada. Vive na ilusão de obras e espetáculos de noventa minutos. Ser humano transcende o material. É hora de fazer porque estamos acostumados a mendicar, a pedir e reivindicar por nossos direitos. Mas temos deveres. Temos o dever de mudar. Quando um muda já é muito, mesmo sendo muito pouco, sempre será mais um. O mundo muda com a mudança da gente. Sejamos libérrimos e não escravos da desgraça. Incomode-se com o absurdo, incomode-se com o mundo, com tudo. Até quando você vai ficar sentado em frente da TV assistindo alheio o descaso que também é pra você? Não sejamos um monte de cebolas, que você descasca e no fim não tem nada mais que isso: casca. Precisamos fazer, ser mais!


"...Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro..."

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Uma carta.

Há tempos não escrevo uma carta. Há tempos também que não recebo uma carta. Há tempos que não vejo minhas letras e também não sei as dos outros. Há tempos que não vejo o contorno de minha alma e também o dos outros. Nunca escrevi uma carta sequer para ninguém. É bem verdade que ninguém também nunca me escreveu nada na vida. Mas é uma questão de tempo. Por sinal, o tempo é uma questão muito importante. essa chuva que cai me impede de fazer algumas coisas. Então, por isso, me deitei e acabei me encontrando pensando nessas coisa de escrever uma carta. Por isso, escrevo pra você, meu amor.

Rio de janeiro, 17 de fevereiro de 2010

Querido;

Estou tentando me virar aqui, sem você. sabe, é difícil demais pra mim. Aguentar tudo sozinho é muito difícil, mas vou conseguir. Um dia desses, arrumando o armário, achei aquela boina quadriculada que te dei de presente, lembra? Não sabia que ainda estava aqui. Lavei porque já estava quase mofando. O mais incrível é que mesmo depois de lavada, ainda ficou com o seu cheirinho. Seu quarto está limpo. Lavei o chão e troquei as roupas de cama. Aquela mancha do lençol saiu. Todas as manhãs eu abro as janelas, pro sol entrar. Às vezes, quando sinto muito a sua falta, durmo em sua cama, pra te ter mais pertinho de mim.Queria que estivesse aqui comigo. Desculpe. Não queria que fosse assim. . Mas é que você me irritava dizendo que me amava, que me queria por toda vida. E quando dei por mim, o revólver já estava nas minhas mãos. Hoje eu não bebo mais. Seu rosto era tão bonito... Rezo por você.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Etéreo.

** Ler escutando Mensagem de amor, de caetano Veloso.


Era um pouco mais. Era como se estivesse só no mundo-apartamento, com uma janela de frente para o calçadão. Era como se morasse lá, em cima do horizonte. Etéreo. Era um ar fresco e denso. Um ar que se podia sentir por entre os cachos de cabelo castanho-claros. Um ar fresco que resvalava pela e pele branca - quase avermelhada pelo sol da estação mais esperada porque era a cara de sua cidade. Porque era a cara de todos. Estava ali, ele, com seu corpo e sua mente: não pensava em nada. Acho que não era nada. Ou não.
Sim, estava ali, ele mesmo, com seu corpo, seus cachos castanho-claros, sua pele branca quase avermelhada, um vento fresco e denso, um vento resvalando e só. Ele, sozinho, à parte, era sem ninguém, sem alguém: Era ele e só. Era ele, sem o Deus. O mundo todo e ele só. Observava todo o mundo ao seu redor: cada fragmento de coisa, cada coisa, cada inação do nada em volta de si. Aspirou fundo o ar, percebendo seus pulmões, soltando-o com vagareza. Ao peito, um ritmo quase cadenciado do músculo-coração-de-carne. Se fechasse os olhos, não via nada além de um breu, que poderia ser ele, momentos antes. Mas é que agora não via nada mesmo, ao fechar os olhos. Mas sentia. Sentia na mesma cadência um fluxo, Um gosto de ferro. Um fluxo que fazia tremer suas pálpebras e incharem os dedos das mãos. Percebeu um pescoço: uma ligação. Um duto. Percebeu um sangue que não via.
Texturas diferentes, lisas, rugosas, ásperas mãos e pés lânguidos e transpirantes. Uma figura lânguida, músculos aparentes, costas. Plexo e bacia, ombros, esterno, diafragma, abdômen. Isso era um corpo. Ele era um corpo. Ele estava sendo um corpo inteiro ali, com ele mesmo: nele. Surpreendeu-se: nunca tinha sido um corpo inteiro. Quando faz um gesto, descreve uma linha no horizonte, uma trajetória no ar, que por quase um segundo se mantém e se desfaz.
Com a mesma consciência que acabara de nascer ali, ele olhou com o corpo todo, em trezentos-e-sessenta graus, o universo inteiro.
Viu uma natureza também sozinha. Uma árvore, uma amendoeira. Torta, grande, folhas verdes. Uma árvore sozinha no mundo. Um ser. Descobriu que a árvore não lhe causava afetação alguma. Nenhuma.
– Uma árvore é uma árvore e eu sou eu. Uma árvore não é nada. Eu sou eu. Uma árvore não é nada porque não poder dizer que é, mas também não pode dizer que não. Por isso não é. Eu posso, eu sou porque posso e sou. É isso.
Duas mãos, cinco dedos em cada mão. Um corpo inteiro e novo. Ele fecha os olhos e enxerga com cada dedo todo o corpo. Reconhece-se em si mesmo e sabe que está sendo ele mesmo ali.
Desce as escadas e descobre coxas, pés, joelhos. Articulação. Ele tem duas pernas e não três, como havia pensado. Ele não era um tripé há muito tempo. Desde hoje. Agora, em frente a coisa-árvore, olha-a com olhos, mãos, dedos e tórax. Descobre que no mundo há, além de seu corpo completo, inteiro, há também uma árvore. Perdoou a árvore por não poder dizer que era, que estava sendo uma árvore e só. Atravessou a avenida e chegou à areia cor de areia: ali, era ele, o mar, a areia e lá longe, a árvore. Deitou na areia e descobriu a sensibilidade das costas, braços e tudo. O universo de cima caia por sobre seu corpo todo, em um azul intenso da noite, estrelas e lua redonda. Fecha os olhos.
Alguns minutos. Ou não. Horas.
Levantou-se e andou sem rumo, em cima da areia. Tão completamente etéreo e só, tentando ver pelo corpo todo. Anda de costas para ver o horizonte indo e indo e indo...
Para. Há algo cujo corpo não tinha visto. Algo afetou sua trajetória, se traço no horizonte. Vira-se. E era um conjunto de pedaços. Uma matéria igual a ele, mas diferente. Também só. Longos cabelos e negros. Entre um e outro um abismo de silêncio separando os corpos. Alguns minutos. Ou não. Horas. Um universo parado, à espera de alguma ação. Vagando entre os astros um momento suspenso. Eram somente olhos e corpos até então. A garganta secou, a areia chupou a transpiração de seus pés lânguidos. Seu músculo-coração-de-carne aumentou, numa decadência. Ela apertava uma unha contra outra. O vento movia os cabelos e quase escondia seu rosto. Olhos castanhos. E intensos. Ele sozinho, à parte. Ela solitária e inerte. Até que ambas as carnes tocaram-se. Vinte e nove músculos gritaram. Duas línguas. Lábios e dentes. Mãos todas e tórax.
E foram os dois embora. Ele, antes sozinho e ela, solitária no universo-praia. Agora, um ensinava ao outro como ser sozinho a dois.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Você precisa saber.

Homem, Pra onde pensa que vai?
As coisas não são bem assim
Você não sabe o tempo de parar?
Voltar atrás não é desistir
Veja o que sua vida se tornou
Solidão, vazio e dor
Chega de mentir pra si
Dizendo que tudo vai bem
Tudo tá legal
Viver no caos não é natural
Pare agora com isso
Você está destruindo a si mesmo
Quando nega carinho
Quando diz não a um irmão que poderia ser você
larga essa arma
Essa guerra está fadada
A acabar com as esperanças de um mundo melhor
Discurso de tiros não faz de você um herói
Falsas promessas, politicagem, esse é o seu melhor?
Cruzar os braços diante da TV, diga, esse é o seu melhor?
Estar totalmente alheio a tudo, esse é o seu melhor?
Você precisa saber da fome, da violência
Da falta de assistência, do descaso
Do assalto a mão armada, da corrupção
Da má intenção, da crueldade
Da falta de liberdade, do aborto
Do mofo que cobre o seu corpo
Você precisa saber.
Eu não sei o que você está fazendo ou vai fazer
Mas você precisa saber.
Divino maravilhoso não está não
É bom colocar os pés no chão,
Meu irmão
Eu não sei o que você está fazendo ou vai fazer
Mas você precisa saber.

eu fico

eu fico esperando por comentários
eu fico esperando por redenção
eu fico esperando por respostas
eu fico esperando por uma luz
eu fico esperando por contatos
eu fico esperando por um tapa
eu fico esperando por vida
eu fico esperando por qualquer coisa
eu fico esperando por um sonho
eu fico esperando por um beijo
eu fico esperando por um vento
eu fico esperando por uma laranja
eu fico esperando por um estímulo
eu fico esperando por uma risada
eu fico esperando por copo dágua
eu fico esperando por um elogio
eu fico esperando por um tempo
eu fico esperando por um abraço
eu fico esperando por um carnaval
eu fico esperando por um raciocínio
eu fico esperando por um prato
eu fico esperando por um livro velho
eu fico esperando por nada
eu fico esperando por um cacho de bananas
eu fico esperando por tudo
eu fico esperando por um telefonema
eu fico esperando por um coqueiro
eu fico esperando entendimento
eu fico esperando por ninguém
eu fico esperando por um pedaço de pão
eu fico esperando por mim
eu fico esperando por todos
eu fico esperando
eufico esperando
esperando
eu fico
eu
.

Existe.

**Recomenda-se ler ao som de Summertime, da Janis. A Joplin, sabe?


Acordou diversasas vezes durante a madrugada porque o calor estava absurdo. Levantava, bebia água, se molhava na pia e voltava a dormir. Denso. Como o calor. Por fim, acordou antes do despertador tocar mas desistiu de tudo e desmaiou novamente. Recebeu um telefonema. Era Ana. Falava ininterruptamente sobre sua coleção de novos problemas e outras conversas como trabalho, teatro, grana, política, contas a pagar, fim de relacionamento e geladeira pifada: assuntos que todos gostam de falar, logo pela manhã. Sua voz-rouca-e-pouca arrrranhava a conversa que por pouco não era monólogo, se não fossem algumas poucas interrupções suas.
 - Te acordei?
- Não. Minha garganta tá meio ruim mrsmo.

Decidiu deitar no chão porque não aguentava de preguiça e calor. Em frente ao ventilador que soprava um bafo mais quente do que ele mesmo, naquele momento. Uma hora e blau de conversa, até que ele decidiu que.
Levantou-se. Precisava de um banho. Nu, em frente ao espelho olhava-se como um voyer o próprio corpo. Narciso-através-do-espelho. Água fria pra espantar os maus agouros e fazer trincar as articulações. Escorria por sobre o corpo, despertando pra manhã. Tesão de quem acaba de acordar:  Na cabeça a imagem de uma mulher gostosinha currada por ele e outro cara porque era um fetiche não realizado. Na mão direita o sígno da virilidade e do poder: uma revolução, a quebra de um tabu. 1960, 1970. Uma herança. Ou, quem sabe, um legadoo?! É, masturbação mesmo, cara.Punheta, cinco por um -  Por que, nunca fez? Porra, com essa cara, até parece...Como fazem os homens-sempre-garotos, como disse Nelson, o Rodrigues, sabe? "eternos anjos pornográficos" blábláblá... Arrumou-se.
Um gosto amargo na boca como quem tivesse bebido leite azedo. Era o gosto dele mesmo. O gosto de uma madrugada quente e densa e sozinha. O mingau das almas, como disse uma vez um amigo. Então, ele era o mingau da sua prórpia alma. autoantrpofágico. Hum, Interessante. Escovou os dentes, na tentativa de eliminar o amargo. Até conseguiu. Substituiu o gosto de si pela menta-hortelã-não-sei-o-quê da pasta de dentes. Lembrou que era podre e cheio de bolor. Sorriu feliz e  saiu da casa.

Foi ganhar a vida. Trapaceando, é claro, porque ninguém é de ferro.

Chegou no "quase" trabalho - porque aquilo que ele fazia era trabalho mas não era, ao mesmo tempo. Meio copo de café, pra amargar de vez tudo aquilo e manter acordado, quase-aguentando, com uma fatia de pão ázimo, pra se redimir - um pouco - dos pecados - muitos - e da masturbação matinal. Pão ázimo lembra Jesus Cristo, os apóstolos e aquela história toda que nos faz sedentos dalguma santidade, castidade...Re-den-ção! Bonito, né? E assim foi novamente. Pôs-se a escrever. Ao som de Sommertime, com a voz rouca, quase-igual-a dele, da Janis. A Joplin, conhece? Então.  Até que gostou.E quase sonhou. Mas acabou por lembrar que não sabia como fazer aquilo...Por isso, ficou a remontar um passado já vivido, não por ele, graças aos cheiros e imagens e às sensações físicas e as da alma, sugeridas pela música, acompanhada por um cigarro de filtro vermelho.
- Ai, nostalgia de um tempo não vivido. Isso existe? Existe.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Uma íris cansada

Como se faz , por vezes, até jocoso, tentar lembrar dalguma coisa por mim vivida. O estranho de tudo isso é que o chavão "recordar é viver" não se aplica a tal prática. Busco dentro de minhas memórias pálidas e empoeiradas, da minha vida infinda, uma lasca de lembrança qualquer que seja, justamente para não viver. Revivo o ontem na busca de encontrar um rasgo, uma rachadura, um buraquinho na parede do tempo, a fim de descobrir um possível fim para mim. Por hora, fico a imaginar a minha morte, o meu desaparecimento do mundo e de mim mesmo. Já não conto mais os dias, visto que todos e cada dia se torna uma tortura inacabavel. Não durmo, mas também não vivo. Estou num estado de permanência constante em algum lugar que não sei qual, com pessoas que não sei quem. Num tempo que não é meu. Que passa, mas não me leva. Enquanto isso eu fico aqui, vendo o tempo passar, com minhas pálidas e empoeiradas lembranças, de uma vida quem nem me pertence mais. Eu, descolado do mundo, tenho a sensação de estar sendo sustentado por uma película muito fina, quase transparente, que me mantém num mesanino de tempo, no qual há uma força que me puxa para trás e outra que me empurra para frente. Tais forças me anulam de ação qualquer e por isso orbito em mim, mas também nas páginas da história, entre astros e corpos que não posso tocar. É uma máquina do [não]tempo. Eu, estranho e só, orbito por entre os tempos que não conheço. Eu, sem tempo que me fixe, não tenho o compromisso de um dia acabar. Desprendido da história, vejo as águas da humanidade formarem ondas e destruírem conceitos. Coroações de reis, batalhas sangrentas, revoluções, os amores e o mofo das velhas ideologias. As vanguardas: Um fluxo interminável de acontecimentos e mudanças quais não participo. Brinco de fazer revolução, de coroar reis e rainhas, de amar o mofo. Ironica e contraditoriamente para passar o tempo.Ahahahahahahahahahahaha! Sou uma testemunha. Uma íris cansada. Olhos sem pálpebras.
Talvez, talvez a única solução seja eu esquecer de mim. Assassino minhas lembranças, os mortos que nelas caminham. Vou demolindo cada pedaço da minha existência, até deixar de existir. Sim. porque a morte nada mais é do que deixar de existir para sempre. Acabar para o universo. É trancar-se no vácuo. No fundo escuro do espaço vazio.