Ele: (Sem olhar para Ela) Oi.
Ela: Pode me informar as horas?
Ele: Vinte pra meia noite.
Ela: ah, tá cedo... Você está sozinho?
Ele: É o que parece, não?
Ela: (Dá um sorriso amarelo, entre sem graça e simpática)è...eu estava te reparando...
Ele: (Olha para Ela com ar blasé, volta a olhar para o nada)Hum...(bebe)
Ela: (Olha para a mesa) Você tem cigarros.
Ele: Tenho.
Ela: Posso pegar um? (esticando o braço para fazê-lo)
Ele: Não.
Ela: (retraindo o braço, como um choque. Está sem graça) Não?! Porquê? Olha eu tenho cara de novinha, eu sei, todo mundo diz isso, mas eu fum...
Ele: Não. O cigarro é meu.
Ela: Mas o que custa me dar um cigarrinho só?! Você tem um maço cheio, um cigarro não vai fazer falta.
Ele: Vou fumar menos um por sua causa.
Ela: Nossa, que egoísta...
Ele: pior você, que além de ser uma criança chata, ainda não tem dinheiro e pede as coisas dos outros.
Ela: (revoltada mas cheia de tesão)Criança, é... (debruça na mesa, fica cara a cara com ele, circula a borda do copo com o dedo indicador) Que eu saiba criança que faz criança não é criança, gato. Me dá um cigarro, vai?
Ele: Não que-ro.
Ela: E se eu pegar a força?
Ele: Tenta a sorte, putinha.
Ela: (ri maliciosamente)Se eu quiser, eu pego. Pego o que eu quiser.
Ele: (ri contido) É?
Ela: Teus dentes são bonitos. Tem um sorriso bonito.
Ele: Foda-se.
Ela: Grosso!
Ele: Putimha. (pausa) Tem as unhas e boca pintada com vermelho carne e aparelho nos dentes, que não permite esquecer a idade que tem. Um fado. As crianças morrem quando as virgens são defloradas, mas sempre há um vestígio. Vai embora daqui.
Ela: Qual é a tua, cara? Você é maluco?
Ele: Anda, vai embora.
Ela: Tu é viado, né? Logo vi, esse jeitinho todo sé...
Ele: (Dá um beijo nEla, aperta sua bunda com uma mão e com a outra segura-a pelos cabelos) Agora vai embora.
Ela: (Sem fôlego) Nossa tu é tarado, isso sim.
Ele: Você ainda não viu nada...
Os dois riem juntos, um para o outro. Ele dá um cigarro para ela. Ela acende o cigarro vitoriosa. Traga, solta a fumaça na cara dele.
[continua...]